quarta-feira, fevereiro 12, 2025

Missionário – Capítulo 1 – Alberto Dinys

Capítulo 1

Novela de Alberto Dinys

Veneza, 2025.

Vicente sentou-se na belíssima poltrona que estava perto de um quadro de arte abstrata (dando um ar muito aristocrático a suíte). No olhar, uma visível amargura. Porém, não era depressivo como muitos escritores que padeciam desse mal por longos, longos anos. A amargura dele fazia-o questionar o porquê de tantas desilusões. Tantas desilusões vividas e algumas delas repetidas (natural, já que a vida é caracterizada por ciclos). Vicente, alto, forte, branco, com barba. As mãos com veias que conferiam-lhe muita masculinidade. A postura de homem seguro. Todavia, ainda assim, humano. E o ser humano é repleto de falhas. Vicente afirmou:

— Eu acredito em Deus!

Ficou calado por alguns instantes. Continuou:

— Mas eu também, por diversas vezes, me sinto meio que… perdido em meio a tantas vozes. Tantos sorrisos ao meu redor e expectativas criadas por pessoas que, assim como eu, não alcançaram a perfeição. Entende? As expectativas excessivas cansam. Cansam e anulam a criatividade do homem. Eu acredito em Deus. Eu digo isso e repito. Mas… não gosto de ser visto como um homem que nunca erra. Porque eu erro demais!

Olhou na direção da esplêndida janela que realçava a beleza arquitetônica do local. Respirou fundo. E ajeitou elegantemente os seus cabelos lisos, castanhos, bonitos. Pamela, que estava perfumando-se na frente do espelho, olhou na direção do marido e procurou ser positiva, dizendo:

— Não se cobre tanto ao ponto de esquecer que você é um ser humano. Você expressa que deseja ser visto como um cidadão normal, como outro qualquer. Você é normal, Vicente! Mas Deus te capacita poderosamente a seguir adiante neste mundo repleto de adversidades. De desigualdades. Então, mesmo que você seja normal, ao se colocar à disposição de Deus, as pessoas pensam que você é sobrenatural. Deus É Inefável! Lembre-se disso. Assim, fica mais fácil não se torturar por expectativas humanas. Deus te orienta! Isso é maravilhoso! E é o que você necessita para se fortalecer na Presença do Rei.

Vicente, já sentindo-se mais calmo, sorriu. Que alívio para ele escutar as sábias palavras de uma esposa temente a Deus. Comentou:

— Você pode escrever um livro, hein.

Pamela deu uma leve risada. Disse:

— Não é uma má ideia.

Então, Vicente levantou-se da poltrona e caminhou suavemente na direção da amada. Beijou-a no delicado pescoço que exalava a fragrância francesa.

Quem mediu as águas com a concha da mão? Quem mediu a extensão dos céus com o palmo? Quem recolheu o pó da Terra numa medida e pesou os montes com pesos e as colinas em balanças? Quem guiou o Espírito do Senhor, ou lhe ensinou como conselheiro? A quem Ele pediu conselho, para Lhe dar entendimento e Lhe mostrar o caminho da justiça? Quem Lhe ensinou conhecimento e Lhe mostrou o caminho do entendimento? Para Ele as nações são como a gota de um balde, como pó das balanças; Ele considera as ilhas como um grãozinho. Nem todas as árvores do Líbano bastariam para queimar, nem os seus animais bastariam para um holocausto. Todas as nações são insignificantes diante DELE; Ele as considera menos do que nada, algo inútil. Quem podeis comparar a Deus? A que figura Ele se assemelha?

Isaías 40.12-18

Ainda com a Bíblia aberta, Vicente afirmou:

— Belíssimas palavras!

— Com certeza, amor!

— E que servem para me orientar muito. Sim.

— A resposta da sua angústia?

Vicente sorriu. Respondeu:

— A resposta. E não apenas uma resposta. Uma lição espiritual. Uma lição de vida.

— Sim, Vicente!

— O que sucede é que… eu, por tantas vezes, me coloquei como um homem com todas as respostas do mundo. Que loucura!

— Você? — perguntou Pamela, surpresa.

— É. Mas hoje eu sei que foi um período de muita vaidade espiritual. Intelectual também. Afinal, um missionário é visto por muita gente como um homem de Deus com todas as respostas. Com a solução de todos os problemas da humanidade. E não é assim. Você sabe, amor. Apenas Deus É Inerrante!

— É verdade, Vicente!

— Apenas Deus É Inefável no Seu Supremo Amor!

A um ídolo que o artesão funde e que o ouvires cobre de ouro, forjando-lhe também correntes de prata? Ao ídolo do pobre? Ele não pode oferecer tanto, mas escolhe madeira que não apodrece e procura um artesão talentoso, para esculpir uma imagem que não se moverá. Por acaso não sabeis? Não ouvistes? Não vos foi dito isso desde o princípio? Não entendestes desde a fundação do mundo da Terra? Ele É O que está assentado sobre o círculo da Terra, cujos moradores são para Ele como gafanhotos; Ele É O que estende os Céus como cortina e os desenrola como tenda para nela habitar. Ele É O que reduz os príncipes a nada e torna inúteis os juízes da Terra. Mal são plantados e semeados, e mal firmam raízes na Terra, Ele sopra sobre eles, então secam e a tempestade os leva como se fossem palha. Diz O Santo: Com quem me comparareis? Com quem Eu me assemelho? Levantai os olhos para o alto e vede: Quem criou estas coisas? Foi Aquele que faz sair o exército delas segundo o seu número; Ele chama a todas pelo nome. Por ser Ele Grande em Força e Forte em Poder, nenhuma delas faltará. Por que dizes, ó Jacó, e falas, ó Israel: O meu caminho está escondido do Senhor, e o meu direito passa despercebido ao meu Deus? Não sabes? Não ouvistes que o Eterno Deus, O Senhor, O Criador dos confins da Terra, não se cansa nem se fatiga? O Seu entendimento é insondável. Ele dá força ao cansado e fortalece o que não tem vigor. Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os moços cairão, mas os que esperam no Senhor renovarão suas forças; subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão, andarão e não se fadigarão.

Isaías 40.19-31

— Amém, Vicente!

O marido, feliz, relaxado, fechou a Bíblia e olhou para a amada fixamente. Um leve sorriso no rosto formoso.

— O que foi? — perguntou Pamela, meio sem graça.

— Vamos sair?

— Agora?

— Sim. Você já tá linda!

— Praça? Restaurante?

— Restaurante. Vamos jantar fora. Andar pelas poéticas ruas de Veneza. Sorrir, tirar fotos. Conhecer esta bele cidade. Por que não, hein? Eu te amo! Eu tô aqui! Topa?

— Sim, sim, sim, sim, sim…

E Pamela deu alguns pulos de alegria e ambos beijaram-se envolvidos pelo divino poder do amor sincero. O amor que inspira o homem. Que renova as alegrias de um casal.

Alberto Dinys escreve ficção cristã. Ele acredita que evangelizar por meio de uma ficção que ressalta a importância de Deus na vida do homem, é uma honra e uma belíssima missão de servir O Senhor.

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