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Racha no “Grupão”: Samuel Costa lidera ala que contesta o comando de Acir Gurgacz

Porto Velho (RO) — As articulações para as eleições de 2026 reacenderam tensões profundas no campo progressista de Rondônia.

De um lado, o advogado e ex-candidato a prefeito Samuel Costa (REDE) articula com lideranças e militantes que defendem uma condução mais descentralizada das decisões. Do outro, o senador e empresário Acir Gurgacz (PDT) tenta preservar o protagonismo na formação de uma frente ampla sob sua liderança.

No centro da disputa está a coesão do grupo informalmente conhecido como “Grupão”, composto por MDB, PDT (dirigido por Acir Gurgacz), PSB/Cidadania (federados), PCdoB e PV (federado com o PT).

Fraturas antigas alimentam o racha

Uma das origens do atual descontentamento, segundo interlocutores da esquerda rondoniense, remonta à chamada “unidade goela abaixo” imposta durante as eleições municipais de 2024.

Na ocasião, Acir, enquanto presidente estadual do PDT, anunciou Célio Lopes (PDT) como candidato do partido à Prefeitura de Porto Velho decisão que, segundo dirigentes de outras legendas, ocorreu sem debate interno e sem consulta às bases do bloco.

A escolha teria provocado ressentimento em militantes de siglas como REDE, PSOL, PSB, PT, PV e PCdoB, que enxergaram a aliança como um projeto conduzido de forma vertical, mais centrado no comando de Acir do que em um pacto coletivo.

O desgaste aumentou após o desempenho eleitoral: no primeiro turno de 2024, Célio Lopes obteve cerca de 29,3 mil votos (11,74%), ficando fora da disputa final. No segundo turno, a ala ligada a Acir declarou apoio à candidatura de Mariana Carvalho (UB) considerada de perfil mais alinhado à direita sem consulta formal ao restante do grupo.

A aliança acabou derrotada por Léo Moraes (PODEMOS). Para setores críticos, a combinação entre a imposição de candidaturas e o apoio a um nome ideologicamente distante da esquerda consolidou a percepção de que a construção da frente estava sendo conduzida “de cima para baixo”.

Célio Lopes prepara desembarque do campo progressista

Fontes próximas ao PDT afirmam que Célio Lopes já estaria de malas prontas para migrar a um partido de direita, em movimento que simboliza o distanciamento definitivo do núcleo progressista que o apoiou em 2024.

Segundo militantes que participaram da campanha, Lopes acredita que os 29 mil votos obtidos foram fruto de seu desempenho pessoal, e não da mobilização das siglas e bases de esquerda que se engajaram em sua candidatura.

O gesto é visto por antigos aliados como um rompimento político e simbólico com o campo progressista, especialmente com a militância petista e ecossocialista que atuou em seu favor no último pleito.

O que está em jogo

Rumo e método: o grupo liderado por Samuel Costa defende a definição de um programa político coletivo antes da escolha de nomes, e propõe processos de decisão mais horizontais, em oposição à lógica de comando centralizado.

Amplitude x controle: para a ala de Acir, a frente progressista precisa de liderança firme para enfrentar a direita organizada no estado. Já os críticos alertam que o modelo atual pode afastar movimentos sociais e bases populares que cobram maior democracia interna.

Credibilidade e identidade: o apoio a Mariana Carvalho vista como representante da direita tradicional, ampliou o distanciamento entre o PDT e as bases progressistas. A situação é agravada pelo histórico de Acir, que enfrenta resistências em razão de sua atuação no Senado e de episódios de inelegibilidade em eleições anteriores.

2026 no horizonte

Com a aproximação do pleito de 2026, partidos como REDE, PSOL, PT, PV e PCdoB avaliam até que ponto permanecerão sob a liderança de Acir Gurgacz ou se buscarão um espaço próprio na disputa estadual.

As próximas semanas devem concentrar as negociações em dois eixos principais:

1. Definir regras claras para participação e deliberação das legendas menores dentro da aliança;

2. Construir uma agenda programática comum, com ênfase em temas como meio ambiente, justiça social e transparência, que funcione como base de um eventual plano de governo conjunto, e não apenas como um pacto “contra a direita”.

Se houver avanço nesses pontos, a coalizão poderá conter o racha interno. Caso contrário, o risco é de fragmentação do campo progressista em Rondônia cenário que pode influenciar o equilíbrio de forças em 2026.

Em um quadro de desunião, ganha força a hipótese de um terceiro bloco, liderado pelo ex-governador Confúcio Moura (MDB), que pode disputar o Senado com apoio do PSB/Cidadania, em uma aliança de perfil mais pragmático e voltada à governabilidade federal.

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