Ética deve prevalecer no ambiente escolar, diz Samuel Costa

A alta responsabilidade atribuída aos professores, para contribuir para a formação integral dos/as alunos/as, justifica que devemos atender às exigências éticas, na medida do possível, além de outras qualidades técnicas na atuação como profissional do ensino-aprendizagem. Dessa forma, o objetivo principal é a orientação para uma boa educação em casa e na escola.

O exercício da educação individual em todos os níveis exige integridade, competência, conhecimento, experiência, respeito, empatia, paixão, sinceridade, justiça, humildade, consistência, prudência, moderação e rigor. Por sua vez, a educação é uma aprendizagem ao longo da vida que começa com a admissão à escola infantil, passando para o Ensino Fundamental, Médio e Superior. Além da formação continuada para aqueles que buscam aperfeiçoamentos através de cursos de pós-graduação – inclui também o desenvolvimento profissional continuo.
Nesse limiar, a Profissão, faculdades e outras instituições de ensino e do governo compartilham a responsabilidade de assegurar o alto nível da qualidade da educação em todo este processo detalhado acima. Todavia, educar é uma obrigação para qualquer família e não apenas para escola ou aqueles que são professores. Note-se que, para manter a competência profissional, devem ser complementadas por educação continuada.
Ninguém está ciente de que o que aprenderam na Escola, apenas constitui a fundação do edifício do conhecimento pra vida toda, mas eles têm que ser aumentada e atualizada continuamente. Portanto, quem começa o caminho da escolarização, deve estar convencido de que o estudo e educação continuada nunca podem ser abandonados.

O mundo parece pouco ético mediante as queixas sobre o comportamento humano considerando o radicalismo e a disseminação do ódio. Algumas delas: esferas do poder político corroídas pela corrupção; o crime organizado cresce a olhos vistos e estende sua influência; a violência urbana aumenta e toma ares de barbárie; as incivilidades envenenam as relações pessoais; a desconfiança mútua esgarça o tecido social; o terrorismo redesenha a ordem mundial. E há tantas outras mais. A despeito de tantas reflexões e comissões de ética, o mundo parece pouco ético. Entretanto, não seriam necessários tantos dispositivos de controle do comportamento dos cidadãos, que vão das câmeras e radares ao patrulhamento do “politicamente correto”. Se as discussões contemporâneas certamente refletem um progresso da reflexão humanista, também parecem traduzir um sintoma de crise social de valores.

E, neste cenário, como fica a Educação? Ela também está envolvida nesse debate? Portanto, o objetivo deste artigo é começar a responder essa pergunta por intermédio de uma análise, não do que efetivamente se faz nas salas de aula, mas sim das produções acadêmicas brasileiras a respeito do tema em tela. Fizemos uma revisão de dissertações, teses e artigos que versaram sobre ética e educação (e temas relacionados).
Esta revisão logo evidenciou uma ampla gama de problemáticas e abordagens. Dito de outra maneira, o tema ética e educação, diferentemente de outros (como alfabetização ou ensino de matemática, física, química), não inspirou, pelo menos até agora, questões centrais, que se encontrariam em praticamente todas as publicações, não trouxe polêmicas precisas em torno das quais os autores se posicionariam.

EDUCAÇÃO PARA COM OS OUTROS

A transmissão de conhecimento é uma obrigação do Estado conforme a Carta Magna em vigor desde 1988. A base dessa obrigação é o mesmo que nos impulsiona para aprofundar nossos estudos, por sua vez, o dever ético torna-se o víeis do presente trabalho, por muitas vezes, existe a falta de conhecimento desse princípio moral por parte dos estudantes e dos profissionais do ensino-aprendizagem.
Pode-se falar em moral para designar os valores, princípios e regras que, de fato,
uma determinada comunidade, ou um determinado indivíduo legitima, e falar em ética para se referir à reflexão sobre tais valores, princípios e regras. A reflexão pode ser filosófica: neste caso discutem-se os fundamentos da moral, seus conteúdos, o valor de suas máximas, etc. Um bom exemplo é a Crítica da razão prática (1985), de Immanuel Kant. Mas a reflexão também pode ser científica, e, neste caso, estudam-se as variáveis sociais, culturais, econômicas, psicológicas do fenômeno humano chamado moral. Assim, pode-se dizer que os trabalhos de Lévy-Bruhl (1971), Freud (1991), Piaget (1932) e Kohlberg (1981, 1984, 1987), entre outros, representam empreendimentos no campo da ética.
A moral se referir à dimensão do dever, enquanto a ética diria respeito à dimensão da felicidade. Comte Sponville (In Comte-Sponville; Ferry, 1998) diz que a moral corresponde à pergunta “como devo agir?”, e a ética a outra: “que vida quero viver?”. Um bom exemplo deste significado dado à ética é o livro de Aristóteles (1987), Ética a Nicômaco, dedicado à reflexão sobre a felicidade e às formas de alcançá-la (cultivo das virtudes). Bem mais perto de nós, Paul Ricoeur também faz a diferença entre moral e ética:

[…] é por convenção que reservarei o termo ética para a procura de uma vida boa e o de moral para a articulação entre esta perspectiva e as normas caracterizadas ao mesmo tempo pela pretensão à universalidade e por um efeito de coação. (1990, p. 200)

Para ele, a perspectiva ética é “a perspectiva da ‘vida boa’, com outrem e para ou trem, em instituições justas” (Ricoeur, 1990, p. 202). É claro que, como afirmou Paul Ricoeur, o emprego diferenciado de moral e ética depende de uma convenção. Mas o fato de essas palavras poderem nos remeter a questões distintas (normas, fundamentos, estudos empíricos, vida boa) não deve passar despercebido.
No convívio escolar e no meio da aprendizagem, a ética não deve estar escondida, ou seja, o conhecimento não pode acontecer de forma aleatória. Isto é porque a ética não é um negócio. Nesse caso, a mercantilização do reducionismo profissional e técnica derivada da especialização do conhecimento são dois grandes obstáculos para os profissionais implantar uma dimensão moral quando no convívio em sociedade e no exercício da profissão. Ou seja, não pode ser reduzido a um ethos burocrático mercantilista e profissional sem considerar valores e virtudes morais.
Neste sentido, alunos/as não devem perder de vista esta perspectiva, porque muitas vezes se queixam, às vezes carregado com boa razão de que alguns membros do corpo docente ou responsáveis na Escola não dispensam muita atenção na prática para ética. Por sua vez, esses profissionais que esquecem o convívio social com base na ética, esqueceram que eram estudantes em tempos passados.

ÉTICA NO ENSINO

O verdadeiro sucesso é o esforço para trazer um homem para uma posição definida, em primeiro lugar, é necessário encontrar fatigante onde está. Este é o segredo da arte de ajudar os outros. Qualquer um que não esteja na posição que é engana quando se têm a intenção de ajudar os outros. Para ajudar a outra de forma eficaz, eu entendo mais do que ele; mas acima de tudo, com certeza, eu entendo o que ele quer dizer. Assim, de encontro com o/a aluno/a, deve ser o primeiro passo para tornar o diálogo possível. Por esta razão, não é apropriado reclamar do nível dos/as novos/as alunos/as – que sempre culpam os níveis educacionais mais baixos.
Sócrates disse: ‘Eu não posso ensinar que não é meu amigo’, e embora este transmitiu um método educativo (maiêutica), é difícil de traduzir a nossa relação professor-aluno tempo, sua frase contém uma verdade inegável e continuo apelo ao convívio professor/a e aluno/a em pleno vigor.
Por sua vez, é difícil ser amigo de cada aluno/a, mas o fato é que a transferência de conhecimento depende em grande parte a relação entre professor e empatia com o/a aluno/a, respeito mútuo, confiança e alguns fatores afetivos que facilitam a aprendizagem. O ato de educar é bilateral e recíproca: requer uma corrente de fluxo de simpatia entre aluno/a e professor/a. Esta interação dinâmica requer o estabelecimento de uma força afetiva bilateral, para a comunicação mínima e eficaz. É tão difícil ensinar alguém que eu não sei ou desprezo, aprendendo ou assimilar o conhecimento vindo de mim que provoca rejeição. Portanto, embora seja utópica a questão da amizade, devemos tentar ganhar a confiança e simpatia dos/as nossos/as alunos/as.

A reciprocidade e interação no processo de ensino-aprendizagem

Pode-se dizer que não há nenhuma relação’ com os/as alunos/as no convívio social, mas existe os/as alunos/as com quem se relacionar direta ou indiretamente, ou seja, nos ambientes sociais como igreja, condomínio, clubes, shopping-centers e outros. Cada um deles, por suas características pessoais, vai exigir um tratamento diferente. Embora não seja fácil de lembrar os nomes de todos, especialmente quando você não participar de muitas horas em grupos de professores e estudantes. Todavia, tratar cada aluno/a pelo seu nome, ele/ela se sente único. Isto implica um interesse em coisas que acontecem, suas circunstâncias, suas perguntas, suas necessidades.
Embora seja um princípio que nenhum professor iria admitir intimidades no convívio social, a verdade é que nem sempre cumprem essa exigência ética. O fato de que o professor tem uma superioridade hierárquica não o autoriza a fazer correções ou comentários depreciativos dos estudantes, especialmente na presença de pais, familiares, amigos ou conhecidos. Tal superioridade não autoriza a ignorar as exigências éticas da comunicação unidirecional, ou seja, de cima para baixo.

No ambiente de ensino-aprendizagem, muitas vezes, ocorre relativamente patologias que poderíamos chamar de ‘importantitis’, ou seja, que se apresenta com palavreado como se fosse um “pequeno” Deus. Assim, alguns professores, nunca podem ameaçar os alunos, mesmo secretamente, usando o medo de suspense. Da mesma forma, não é ético usar os alunos para qualquer outro interesse do que a educação (por exemplo, como aríetes contra outros poderes).
O profissional do ensino deve não só a gostar de sua disciplina, mas sentir por ela uma verdadeira paixão, porque é difícil despertar o interesse dos alunos pela disciplina se não colocar a nota emocional, demonstrando fidelidade ao ensino, convicção e entusiasmo pelo que é ensinado.
Dessa forma, o/a professor/a deve ser competente e ter conhecimento suficiente da disciplina ensinada. Isso também requer o estudo e formação continuada. No entanto, ele tem um dever ético para ensinar honestamente o que você sabe e o que ignorou; os alunos não necessitam de onisciência, mas sinceridade. Quem não é capaz de dizer a um estudante “Eu não sei o problema que você levantou”, não pode ser considerado um verdadeiro educador.

Por sua vez, a capacidade de deliberar e refletir sem pressa ou paixão – embora esta qualidade podem ser aplicado a muitos aspectos do processo educacional, ou particularizada na seleção adequada de conteúdos para ensinar os alunos, deve banir a idéia supervalorizada de ter alguns professores que “meu tema é a corrida mais importante” e que os estudantes devem ser “capazes de dominar o vasto campo de conhecimento”. Não devemos esquecer que no ensino em qualquer escala, estão preparando seres humanos para vida toda, o que requer do profissional do ensino, fazer uma boa seleção de conteúdo que um aluno/a em geral deve aprender.

REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1987. (Coleção: Os pensadores)
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1997.
___. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1998.
COMTE-SPONVILLE, A.; Ferry, J. L. La sagesse des modernes. Paris: Lafont, 1998.
FREUD, S. Le moi et le ça. [1922] Paris: PUF, 1991.
KOHLBERG, L. Essays on moral development. S. Francisco: Harper & Row, 1981, 1984, 1987.
LÉVY-BRUHL, L. La morale et la science des moeurs. Paris: PUF, 1971.
PIAGET, J. Le jugement moral chez l’enfant. Paris: PUF, 1932.
RICOEUR, P. Soi-même comme un autre. Paris: Seuil, 1990.

Samuel Costa é Professor, Jornalista, Mestrando em Educação e pai da Sofia Costa.

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