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Pelo terceiro dia seguido, soldados de Israel abriram fogo na manhã desta terça-feira (3) perto de um local de distribuição de ajuda humanitária no sul da Faixa de Gaza, para onde uma multidão de palestinos caminhava em busca de alimento. Segundo a Cruz Vermelha, 27 pessoas foram mortas. Tel Aviv voltou a falar em “tiros de advertência”.
O último incidente, que segundo o Exército ocorreu a aproximadamente 500 metros do local de distribuição de alimentos em Rafah, é o mais recente exemplo do caos que se tornou o controverso sistema de distribuição de alimentos em Gaza apoiado por Israel e EUA.
A recém-criada GHF (Fundação Humanitária de Gaza, na sigla em inglês), um grupo privado que paga a empreiteiros americanos para distribuir alimentos em áreas ocupadas por Israel no sul de Gaza, começou a operar na semana passada com apenas quatro pontos de distribuição.
A quantidade é considerada por entidades como insuficiente para a escassez no território, que passou por um bloqueio de quase três meses imposto por Israel. Sob o sistema de distribuição anterior, coordenado pela ONU, havia cerca de 400 pontos.
As Nações Unidas não estão participando do novo esforço. Segundo autoridades israelenses, a fundação vai verificar se as famílias atendidas têm envolvimento com o Hamas antes de distribuir a comida, o que violaria princípios humanitários de neutralidade e imparcialidade.
A ONU afirma ainda que o grupo coloca civis em perigo, forçando-os a caminhar por quilômetros para obter alimentos em locais arriscados. Também argumenta que a estratégia pode facilitar o plano israelense de deslocar a população do norte de Gaza, já que todos os pontos de distribuição estão no sul do território.
Nesta terça, o Exército israelense disse que as tropas atiraram perto de “algumas pessoas” que se desviaram da rota designada para o local e que não responderam a tiros de advertência. O comunicado os chamou de suspeitos e disse que eles “representavam uma ameaça” aos soldados.
Mais tarde, um porta-voz militar fez um alerta para que moradores de Gaza não se mudem para áreas que levam aos centros de distribuição e classificou essas regiões de “zonas de combate”. O Exército disse estar ciente dos relatos de vítimas e que estava investigando o caso.
Segundo projeção da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), iniciativa apoiada pela ONU, 100% da população de 2,1 milhões de pessoas no território está em risco de insegurança alimentar, e 470 mil estão em “níveis catastróficos” de fome.
A GHF disse estar ciente dos relatos de tiros longe da área do local de ajuda nesta terça-feira, mas afirmou que o ponto de distribuição em si operou “com segurança” durante toda a manhã. Grupos de ajuda, no entanto, disseram que o derramamento de sangue mais recente demonstrou os riscos do novo sistema.
Israel diz que o método é necessário para impedir que o Hamas roube e estoque alimentos, além de financiar seu esforço de guerra vendendo alimentos para civis a preços elevados. Autoridades da ONU argumentam que não há evidências de que a ajuda internacional tenha sido desviada pela facção terrorista.
“Os eventos de hoje mostraram mais uma vez que esse novo sistema de entrega de ajuda é desumanizador, perigoso e severamente ineficaz”, disse Claire Manera, coordenadora de emergência dos Médicos Sem Fronteiras, em um comunicado. “Resultou em mortes e ferimentos de civis que poderiam ter sido evitados. A ajuda humanitária deve ser fornecida apenas por organizações humanitárias que tenham a competência e determinação para fazê-lo de forma segura e eficaz.”
Muitas das vítimas dos tiros foram levadas ao hospital do Comitê Internacional da Cruz Vermelha em Rafah. Na terça-feira, a clínica recebeu os corpos de 19 pessoas, além de oito outras que posteriormente morreram devido aos ferimentos, disse a organização em um comunicado.
Horas após as denúncias das 27 pessoas mortas nesta terça, a Fundação Humanitária de Gaza anunciou a nomeação de um líder evangélico conservador como seu novo presidente. O escolhido foi o reverendo americano Johnnie Moore, que já trabalhou com o presidente Donald Trump em questões de liberdade religiosa, segundo a agência de notícias AFP.
No passado, Moore já adotou posicionamento de confronto com a ONU. Depois que o secretário-geral da organização, António Guterres, disse no último domingo ter ficado horrorizado com “os relatos de palestinos mortos enquanto buscavam ajuda em Gaza”, o reverendo disse que a informação era falsa.
“Senhor secretário-geral, trata-se de uma mentira espalhada por terroristas e o senhor continua espalhando. Por favor, corrija”, publicou Moore na plataforma X, referindo-se a Guterres.
Fonte: FOLHAPRESS
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