segunda-feira, dezembro 23, 2024

Juros altos comprometem investimentos, principalmente entre as MPEs, avaliam entidades

Associações industriais apontam que aperto no crédito deve dificultar desempenho do setor

Em relatório divulgado essa semana, o Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), órgão do Banco Central, destacou a questão dos juros no país na avaliação do cenário econômico e financeiro.

O Comef apontou que houve desaceleração no ritmo de concessão de crédito tanto para empresas como para o consumidor pessoa física. O dinheiro mais caro, com juros subindo para o cliente, diz o Comitê, apesar de a taxa Selic estar estacionada desde agosto do ano passado em 13,75%, também faz com que as instituições fiquem mais criteriosas para a concessão de crédito.

Para entidades industriais, o aperto no crédito pode impactar diretamente a capacidade produtiva do país, principalmente entre as empresas de menor porte. Na vida prática das empresas, os juros altos indicam a necessidade de se ter mais dinheiro para pagar dívidas, muitas vezes, contraídas num cenário em que a taxa estava perto da mínima, como era em 2021.

Segundo José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a taxa de juros elevada do Brasil “é uma disfuncionalidade de longa data”, que compromete o crescimento e o desenvolvimento econômico e, consequentemente, gera uma desindustrialização.

“O nível das taxas de juros gera um desinvestimento. Não existe atividade econômica que tenha retorno após pagar o custo dos juros”, afirma Velloso.

Além disso, o especialista também ressalta a questão de oportunidade. Quando os juros chegam em patamares como esse, emprestar dinheiro por meio dos títulos públicos para o governo se torna um investimento tão rentável que dificilmente o setor produtivo vale a pena.

A Confederação das Associações Comerciais do Brasil (CACB), por sua vez, considera quer os juros altos e as dificuldades para obtenção de crédito prejudicam o desempenho da economia, e afetam principalmente as micro e pequenas empresas, com maior dificuldade para acesso a financiamentos.

Segundo levantamento do Serasa Experian, o número de falências de empresas – de todos os setores – avançou 56,5% em janeiro deste ano, em relação ao mesmo mês do ano passado – de 46 pedidos para 72. O aumento chega a 80% quando consideramos os 40 pedidos de falência registrados em janeiro de 2021.

Algumas medidas, aponta a CACB, poderiam ser adotadas para amenizar as dificuldades das MPEs, como linhas especiais de crédito, com mecanismos de garantias — como o Pronampe, o Programa Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.

“As altas taxas de juros resultam de fatores como a inflação e as incertezas na área fiscal, exigindo, principalmente, medidas que reestabeleçam a confiança dos agentes econômicos, prometidas pelo ministro Haddad”, afirma a CACB.

Em nota técnica publicada no final de fevereiro, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) também destaca o impacto dos juros altos para as empresas de menor porte. De acordo com o documento, a trajetória de elevação da Selic tem sido um “complicador adicional” para o custo do crédito à micro, pequenas e médias empresas, dado que a Selic baliza as taxas de juros do crédito concedido no mercado a essas empresas.

Questionada pela CNN, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e FecomercioSP responderam que não se posicionariam sobre o assunto.

Na ocasião da divulgação do resultado do PIB brasileiro de 2022, a Federação das Indústrias emitiu comentário em que, entre outros pontos, apontava a diminuição do custo do crédito a partir da redução da taxa básica de juros entre “as ações prioritárias” para lidar com a projeção – feita pela entidade industrial – de um crescimento econômico de 0,5% em 2023.

Aod Cunha, comentarista de Economia da CNN, avalia que a continuidade do atual patamar da taxa de juros deve gerar uma situação desafiadora no mercado de crédito.

“A permanência de uma taxa elevada, o prolongamento dessa taxa, evidentemente, em algum momento, iria gerar uma situação de restrição de crédito mais aguda. Precisamos reduzir a taxa de juros. Precisa ser feito de maneira correta, para que uma redução mal feita depois não nos leve a uma subida adicional de juros e uma restrição de crédito maior”, explica.

Em relatório enviado aos clientes nesta semana, a consultoria Verde Asset apontou que existem sinais incipientes de uma possível crise de crédito atingindo a economia brasileira e que, por isso, será necessário “boas políticas públicas” para administrar a situação.
Regra fiscal

A CNC, em nota encaminhada à CNN, afirmou que as perspectivas de queda da taxa de juros dependem, principalmente, de uma sinalização concreta do governo — em especial do Ministério da Fazenda — em relação à nova regra fiscal que substitua o teto de gastos, regra que não tem sido cumprida.

Isso porque a taxa de juros, além de uma resposta à inflação, reflete a necessidade de financiamento do déficit publico.

“Quanto mais o governo sinalizar com o controle e redução do déficit público, maior o espaço para a diminuição da taxa de juros e, consequentemente, o crescimento do Brasil”, afirma a confederação.

Ainda, afirma que a reversão do processo inflacionário, combinada com o anúncio da âncora fiscal, pode permitir ao Banco Central uma redução na Selic e ampliação da liquidez.


Fonte: CNN Brasil

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