Na noite de quarta-feira, 5 de março, o Residencial Cristal da Calama, na Zona Leste de Porto Velho, se tornou palco de uma manifestação, no mínimo, curiosa. Moradores da área atearam fogo em pneus na Rua Goianésia com a Avenida Calama, afirmando que o ato era um “protesto pacífico” para chamar a atenção das autoridades, especialmente da Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia (Caerd). A alegação? A falta de água nas casas do bairro. Porém, como sempre, a história tem um lado que fica um pouco… fora do eixo.
Seria um protesto pacífico se o método utilizado não envolvesse fogo em pneus, uma tática de bloqueio comum, mas certamente nada pacífica. A “protestaçãocivilizada” teve o objetivo de chamar a atenção da Caerd, mas, ao contrário do esperado, uma equipe técnica da companhia foi até o local para verificar a situação. E, adivinhem? A água estava chegando às casas normalmente. Não houve interrupção no fornecimento. O que, inclusive, gerou mais dúvidas sobre o real motivo da manifestação.
O que se descobriu, no entanto, é que a manifestação ocorreu após o início da instalação de hidrômetros, na manhã dessa quarta-feira (5). Isso significa que os clientes pagavam apenas pela tarifa mínima e a maioria possui faturas atrasadas. Ou seja, a água estava sim sendo fornecida, mas muitos preferem gastar à vontade sem pagar o devido. Em vez de procurar soluções, como quitar suas dívidas, esses cidadãos preferiram fazer barulho, literalmente, e causar transtornos para quem realmente paga suas contas em dia, que gera a melhoria da prestação do serviço.
E o que dizer das redes sociais? Como não poderia faltar, o grupo recorreu ao poder das plataformas digitais para disseminar a versão deles sobre a “injustiça” cometida pela Caerd, alegando que a companhia não fornecia água e queria apenas instalar hidrômetros. Engraçado como esquecem de mencionar que o grande problema é a falta de comprometimento de uma parte da comunidade com suas obrigações financeiras. A hidrometração vem ocorrendo em vários municípios do Estado desde 2023. Mas claro, a versão simplista do “não tem água” é sempre mais apelativa.
E no meio dessa bagunça, surge um vereador, eleito recentemente e já fazendo o que sabe fazer de melhor: palanque político. Aproveitando-se da situação, o vereador fez questão de se manifestar, pedindo que o governo do estado e a direção da Caerd se posicionassem. Como um verdadeiro mestre da política oportunista, não perdeu a chance de estar “ao lado da população”, mas bem de olho nas eleições de 2026.
Vale lembrar que, ao longo da gestão da Caerd, reuniões foram realizadas com a comunidade, buscando acordos para a regularização das dívidas, oferecendo até condições especiais de parcelamento para facilitar o pagamento das contas. Mas é claro, isso não foi suficiente para quem prefere se manter na superficialidade do protesto do que encarar a realidade dos problemas.
O problema, como sempre, não está em todos os moradores. Muitos do Residencial Cristal da Calama pagam suas contas em dia e, inclusive, sofrem com a falta de água por conta do desperdício promovido por uma minoria que prefere protestar a pagar pelo que consome. No fim, quem sofre são os que têm compromisso com suas responsabilidades, enquanto o espetáculo do fogo e da falácia social rola solto.
Em vez de colocar fogo nas ruas, talvez fosse mais produtivo colocar um pouco de foco na resolução das pendências e em conscientizar a população sobre a importância de pagar a conta de água e evitar o desperdício, ao invés de jogar gasolina na fogueira.
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