sábado, março 8, 2025

O cinismo dos pseudo-patriotas: A hipocrisia dos que aplaudem sem entender – Por Samuel Costa

AntagonistaRO – Os chamados “patriotas” brasileiros nos proporcionam, mais uma vez, um espetáculo digno de comédia. A mais nova façanha desse fanatismo desorientado? Celebrar o Oscar do filme Ainda Estou Aqui, protagonizado por Fernanda Torres e Selton Mello, sem perceber que a obra escancara os horrores da ditadura militar que eles tanto relativizam. A ironia? Eles vibraram ao ouvir “Brasil” na premiação, mas parece que não entenderam o contexto.

Durante anos, essa turma minimizou tortura, censura e assassinatos cometidos pelo regime militar. Repetiram discursos sobre “anos dourados” e juraram que o país vivia em segurança sob coturnos e porões de repressão. Mas bastou o primeiro filme brasileiro a conquistar um Oscar — estrelado por dois atores progressistas — para essa gente correr para as redes sociais e celebrar, sem perceber que estavam ovacionando uma denúncia histórica contra a própria narrativa que defendem.

Mas nada disso é exatamente uma surpresa. A extrema-direita sempre odiou a cultura e a arte, porque ambas exigem reflexão e pensamento crítico — dois elementos incompatíveis com uma mentalidade autoritária. O bolsonarismo passou anos demonizando o cinema nacional, cortando verbas da Ancine e perseguindo artistas. Para essa gente, cultura é um inimigo a ser combatido, porque a arte questiona, provoca e desmascara o autoritarismo.

O que mais incomoda os reacionários é que a arte não se submete ao pensamento único. Quem tem capacidade cognitiva limitada e não sabe lidar com o antagonismo busca impor a censura. O bolsonarismo sempre tentou sufocar manifestações artísticas, porque não consegue conviver com a diversidade de ideias. No fundo, eles não querem que as pessoas pensem — querem apenas seguidores obedientes, incapazes de enxergar contradições ou questionar o sistema.

Mas, enquanto a extrema-direita se perde em sua própria contradição, os brasileiros democratas sabem a importância de defender a democracia e combater qualquer governo de viés ditatorial. A conquista desse Oscar não é apenas um reconhecimento artístico, mas também um lembrete de que a memória histórica precisa ser preservada. O Brasil já sofreu sob um regime autoritário e não pode permitir que a história se repita. A democracia se fortalece com a verdade, com a arte e com a resistência contra qualquer forma de opressão.

A incoerência dos pseudo-patriotas já seria trágica. Mas, desse jeito, chega a ser hilária. Aplaudem um filme que expõe a ditadura, mas continuam negando seus crimes. Celebram a vitória do cinema nacional, mas passaram anos tentando destruí-lo. O que vemos agora é a prova viva de que o fanatismo desorientado leva seus próprios seguidores a aplaudirem aquilo que, se compreendessem, teriam vergonha de admitir.

Samuel Costa é rondoniense, advogado, professor, jornalista e especialista em Ciência Política

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