PORTO VELHO NÃO PRECISA DE “MAIS DO MESMO”, Por Samuel Costa

No momento em que se iniciam os debates políticos em torno das possíveis candidaturas, proponho uma reflexão sobre quais seriam os maiores desafios para o vencedor do pleito que se aproxima. Antes, aviso que este artigo busca se limitar aos aspectos programáticos dos problemas relevantes que a cidade convive ao longo de muitos anos – e que impactam negativamente a qualidade de vida das pessoas que moram aqui, e na visão que ela produz nas pessoas comuns, nos políticos e nos investidores.

Uma cidade de 530 mil habitantes é, em tese, bastante “governável”, uma vez que a pressão demográfica sobre os equipamentos e a oferta de serviços providos pelos órgãos públicos são quantitativamente pequenas se comparadas aos municípios maiores. De forma mais simples: com essa quantidade de habitantes, as cidades podem organizar melhor a oferta dos serviços diante do volume da demanda. Não é o caso de Porto Velho.

Embora elevada à condição de capital do estado no ano de 1981, após décadas de controle federal, portanto sob a gestão do ente mais rico da União, Porto Velho não conseguiu construir as estruturas necessárias para atender a demanda da população residente, menos ainda aquelas produzidas pelos moradores dos municípios mais próximos, que acorrem à capital na busca de soluções não oferecidas nas suas cidades de origem.

Desta forma, passado 35 anos de redemocratização e depois de nove eleições municipais realizadas, os problemas estruturais da capital do estado permanecem – agora agravados pelo aumento da população local e pela fragilidade dos serviços públicos nos outros municípios. Os problemas tangíveis na área de saúde, educação, mobilidade urbana, lazer, assistência social, viários, se acumulam por décadas, sem que hajam enfrentamentos relevantes para mitigá-los. O mesmo ocorre com aqueles de natureza intangíveis, como cultura, em que são envolvidos valores, hábitos e costumes e cuja objetividade está em produzir satisfação e a certeza da continuidade das suas atividades por tempo indefinido.

No geral, as sucessivas gestões ofereceram à cidade “mais do mesmo”, com e repetição de políticas sem consistência para problemas estruturais, renitentes. Isto é, quando a demanda é por soluções profundas e duradouras, as soluções apresentadas possuíam características paliativas e passageiras. Com isso, diante da dimensão dos problemas, os enfrentamentos a eles não produziram impactos significativos, mais passando a ideia de que nada foi feito para solucioná-los.

Além destas questões objetivas, as sucessivas administrações da cidade acumularam outras fragilidades mais perversas e cujas soluções são mais complexas. Explico.

Com o orçamento de 1,4 bilhão de reais por ano, a prefeitura de Porto Velho é um oásis de interesses, em que empresas privadas, corporações de servidores, sindicatos, políticos e seus agregados (empresas, apadrinhados políticos), igrejas, lideres comunitários disputam cada centavo – e mais uma vez o tamanho do município facilita as abordagens que todos eles fazem sobre a gestão. E todos os gestores as aceitaram, consolidando uma prática corrosiva do modo de administrar, atendendo primeiro quem tem mais poder de pressão, abdicando-se das relações institucionais comuns entre quem administra e os agentes econômicos e sociais existentes na esfera da administração.

Ceder às pressões deste ou daquele segmento é abdicar do modo republicano e saudável de administrar. Isto ocorre por duas razões. A primeira é que as contingências políticas e econômicas assim impõem. A segunda é por vontade deliberada do gestor, em que “ceder à pressão” deste ou daquele segmento “atende” aos seus interesses, sejam políticos ou econômicos e lhe proporciona condições menos exigente de gerir a coisa pública. A meu ver, as administrações que se sucederam em Porto Velho, optaram por este último modelo.

No entanto, o que me parece um complicador para que superemos esse estado de coisas, cuja continuidade penaliza aos mais pobres, é a oferta de candidatos a prefeitos que nos são apresentados para as próximas eleições. Com exceção de um ou dois nomes, os demais só podem nos oferecer o temido mais do mesmo. Escolher dentre eles significa conviver com o modelo administrativo que “cede às pressões” dos seus grupos de interesse por mais quatro anos – e, no qual, a maioria da população é excluída.

Samuel Costa é professor, jornalista, mestrando em Ciências da Educação e pai da Sofia.

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