Em depoimento na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) das Fake News nesta quarta (30), o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) disse ter recebido uma ligação do presidente Jair Bolsonaro (PSL) momentos após discursar no plenário da Câmara defendendo a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro.
A conversa teria acontecido no dia 14 de fevereiro deste ano. Na manhã deste dia, Frota subiu ao plenário e disse: “Eu também quero o Queiroz preso, e aí?”. A declaração se deu em meio a críticas a partidos de oposição como PT e PSOL. O deputado concluiu o discurso com a frase: “E vou falar que laranja podre, no PSL, será esmagada.”
Nesta quarta, Frota disse que, logo depois do discurso, recebeu uma ligação do presidente.
O deputado afirmou que decidiu falar sobre Queiroz no plenário após o que qualificou como provocação do líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta. “Ele aponta para o meio do grupo do PSL e fala: quero saber se vocês, depois de todas as notícias sobre o tal do Queiroz, se alguém vai subir e vai pedir a prisão do Queiroz”, contou o parlamentar.
“Subi e pedi a prisão do Queiroz. Meu telefone tocou, era Jair Bolsonaro reclamando que eu teria no plenário pedido a prisão do Queiroz”, prosseguiu Frota, que autorizou a quebra de seu sigilo telefônico para comprovar a existência do diálogo.
O deputado disse que, na sequência, o filho mais velho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), o abraçou e disse: “papai ficou chateado com você por você ter se expressado dessa maneira aqui no plenário”.
Em outro episódio, afirmou o deputado, Bolsonaro teria puxado Frota pelo braço em um evento e pedido para ele “calar essa matraca”. A cena foi registrada em vídeo, segundo o parlamentar.
Fabrício Queiroz é pivô da investigação que foi conduzida pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, sobre lavagem de dinheiro, peculato e organização criminosa no gabinete de Flávio Bolsonaro no período em que ele foi deputado estadual.
Frota também comentou reportagem do Jornal Nacional divulgada na terça (29) com base no depoimento de um porteiro do condomínio onde o presidente Jair Bolsonaro tem casa no Rio.
Segundo reportagem, o ex-policial militar Élcio Queiroz, suspeito de envolvimento no assassinato de Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes em março de 2018, disse na portaria que iria à casa de Bolsonaro, na época deputado federal, no dia do crime.
Os registros de presença da Câmara dos Deputados, no entanto, mostram que Bolsonaro estava em Brasília nesse dia.
“Fiquei estarrecido como todos. O Rio de Janeiro é minha cidade, cidade maravilhosa, as pessoas dizem ‘nossa, como o rio é pequeno’. Eu jamais iria imaginar que o suspeito de matar Marielle morasse dentro do condomínio do Bolsonaro. Não poderia imaginar que o filho namorou a filha do Ronnie Lessa, sargento aposentado da Polícia Militar acusado pela morte da política”, disse.
“A pergunta que não quer calar é: quem atendeu o interfone com a voz parecida e autorizou o carro a entrar? Quem? Essa é a pergunta que queremos saber”, disse Frota na CPMI.
Aos deputados e senadores que compõem a CPMI, Frota afirmou que o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) seria o responsável por coordenar as milícias digitais que atuam nas redes sociais em defesa do presidente.
“Vem de dentro do Palácio [do Planalto] os três personagens que vieram das redes bolsonaristas, que tiveram oficializada a rede de ataque em ambiente público”, disse, em referência a Tercio Arnaud Tomaz, José Matheus Salles Gomes e Mateus Matos Diniz, grupo de assessores que integrariam o chamado “gabinete da raiva”.
“Quem coordena? Carlos Bolsonaro, realizando reuniões, disparando via WhatsApp os seus comandos”, disse Frota.
A sessão da CPMI foi marcada por momentos de tensão. Logo no início, um grupo de dez jovens, alguns com broches do CPAC (Conferência de Ação Política Conservadora), começou a gritar frases contra Frota enquanto o deputado falava sobre o uso de milícias digitais durante a campanha eleitoral de 2018.
Mais tarde, com quase três horas de sessão, Frota e o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente e líder do PSL na Câmara, trocaram farpas.
Eduardo afirmou que a presença do ex-colega de partido era um “escárnio com a sociedade brasileira” e perguntou ao deputado do PSDB o que passava por sua cabeça.
“O que passa pela minha cabeça só interessa a mim, não a você”, respondeu o parlamentar convidado. Eduardo rebateu e afirmou que Frota era “menos promíscuo quando fazia filme pornô”.
“E o senhor assistia muito, né?”, retorquiu Frota. Eduardo deixou a sessão pouco após o discurso e foi chamado de “neném” e “mimado” pelo ex-colega.
Mais cedo, Frota acusou a deputada Bia Kicis (PSL-DF) de espalhar fake news ao disseminar um vídeo em que um suposto integrante das Farcs (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) faria ameaças ao presidente Bolsonaro e se dirigiria ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como “comandante”.A parlamentar respondeu: “Não postei fake news, postei uma notícia enganosa.”
Fonte: FOLHAPRESS
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