MDB busca lugar ao centro e se consolida como importante sigla em alianças

Partido com maior número de prefeituras pelo país almeja um candidato único, avesso à polarização entre Bolsonaro e Lula. Ibaneis Rocha, Renan Filho e Simone Tebet são potenciais nomes da legenda, mas há também planos para formação de alianças

(crédito: ED ALVES)

Partido de maior penetração nos municípios, com grande influência no cenário político, o MDB é ator importante nas discussões sobre alianças para as eleições de 2022. O apoio da sigla é cobiçado pelos principais pré-candidatos à presidência da República, que buscam compor com forças de centro para fugir da polarização entre direita e esquerda, rejeitada por grande parte dos eleitores. Abordada por outras legendas, a cúpula emedebista se mostra aberta ao diálogo, mas tem insistido que poderá ter candidato próprio na corrida ao Planalto.

O MDB, mesmo tendo perdido 260 prefeituras nas eleições municipais do ano passado, segue no comando do maior número de municípios do país, 784, incluindo cinco capitais. Além disso, é forte também no Senado, onde tem a maior bancada. São 15 senadores, incluindo os influentes Renan Calheiros (AL), Simone Tebet (MS), Eduardo Braga (AM) e Fernando Bezerra Coelho (PE). Fora do Congresso, o partido conta com os ex-presidentes José Sarney (MA) e Michel Temer (SP), não menos relevantes.

O MDB está na mira do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que busca ampliar sua base de apoio para além do Centrão, em um momento de enfraquecimento político e de queda da popularidade. Ao mesmo tempo, nesse movimento, o chefe do Executivo tenta compor com forças moderadas, para afastar rejeições e atrair votos também fora dos círculos bolsonaristas radicais, que não passam dos 30% dos eleitores.
Na recente minireforma ministerial promovida por Bolsonaro, chegou a ser aventada a possibilidade de oferecer ao MDB a Secretaria de Governo, responsável pela articulação com o Congresso. No entanto, dois obstáculos inviabilizaram essa tentativa de aproximação. De um lado, as conversações que o partido tem mantido com setores da oposição ao governo, como o PSDB. De outro, a pressão do Centrão, que cada vez mais dita as regras no Planalto.

A Executiva Nacional do MDB trabalha por uma candidatura de centro, não necessariamente com um nome pertencente ao partido. Entre os cotados dentro da sigla para disputar o Planalto estão a senadora Simone Tebet (MS) e os governadores Ibaneis Rocha, do Distrito Federal, e Renan Filho, de Alagoas. No entanto, o MDB como um todo está dividido em pelo menos quatro grupos: os que pregam candidatura própria; os defensores de uma aliança com Bolsonaro; os apoiadores de uma composição com Lula; e os que querem apoiar o candidato de outro partido de centro.

Lula conta com a simpatia dos emedebistas do Nordeste, região de lideranças como Sarney, do Maranhão, e Renan Calheiros, de Alagoas. Ao mesmo tempo, o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), que está prestes a se filiar ao MDB, diz que pretende trabalhar para fazer de seu futuro partido uma força de oposição a Bolsonaro e admite a possibilidade de apoio à candidatura petista. A ala bolsonarista do MDB, por sua vez, é formada, entre outros, pelos deputados Osmar Terra (RS) e Rogério Peninha (SC).

Ouvindo lideranças

Presidente nacional do MDB, o deputado federal Baleia Rossi (SP) tem pela frente o desafio de evitar, em 2022, um novo racha no partido, como o que ocorreu durante a corrida presidencial de 1998. Naquele ano, a sigla, que se chamava PMDB, se dividiu entre os que apoiavam a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e os defensores de uma candidatura própria. A Convenção Nacional emedebista foi vencida pela ala governista do partido, e os derrotados decidiram apoiar outros candidatos, entre os quais Lula.

Ao Correio, Baleia Rossi defende a busca por um candidato de centro para 2022. Ele também descarta a possibilidade de uma aliança do partido com Bolsonaro ou Lula. “Hoje, está descartado apoiar Bolsonaro ou Lula. Militantes e dirigentes querem um candidato de centro. Vamos iniciar uma discussão sobre nomes. Quero ouvir lideranças de todo o país e avaliar o cenário em cada estado. O objetivo é ter um candidato único do centro. Dentro do MDB, nossos nomes são os governadores Ibaneis Rocha e Renan Filho e a senadora Simone Tebet. Ela fez uma campanha muito corajosa para a presidência do Senado”, disse o presidente do MDB.

Além das questões partidárias, Baleia Rossi tem uma razão pessoal para evitar uma aproximação com Bolsonaro. O chefe do Planalto apoiou Arthur Lira (PP-AL) na disputa para a presidência da Câmara, definida em 1º de fevereiro. No final da corrida, o candidato emedebista perdeu fôlego com as dissidências de deputados do PSL e do DEM, partido de Rodrigo Maia. Lira foi eleito com 302 votos, com ampla vantagem em relação a Baleia Rossi, que recebeu 145 adesões.

O cientista político André Pereira César, da Hold Assessoria Legislativa, acredita que, apesar do discurso da cúpula emedebista, a tendência do partido é a de não lançar candidato próprio no ano que vem. “A tendência hoje do MDB, em relação a 2022, é, de novo, não lançar candidatos, embora o partido afirme que tem nomes para lançar. No caso do Renan Filho, ele tem que crescer muito, aparecer, a mesma situação do Ibaneis e da Simone Tebet. Talvez a Simone tenha mais ativos e atributos políticos para entrar nesse jogo, mas é muito pouco”, avalia o analista.

Ele também observa que o discurso oficial emedebista sobre candidatura própria faz parte do jogo político e que o interesse real da legenda é se cacifar politicamente. “O MDB, certamente, vai usar esses nomes, atributos e condições para valorizar seu eventual apoio a algum candidato de outro partido”, finaliza André César.


Fonte: CORREIRO BRASILIENSE