Ex-secretário do AM diz que apoio do governo federal foi insuficiente para demanda

Estado vivenciou crise grave de oxigênio no início do ano, quando pessoas morreram de asfixia em unidades de Saúde por falta do insumo

(crédito: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

O ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campêlo afirmou nesta terça-feira (15/6), em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, que o apoio do governo federal na logística de transporte de cilindros de oxigênio durante a crise que atingiu o estado não foi suficiente. “A demanda era muito maior do que a logística que foi implantada”, disse.

Campêlo havia sido questionado pelo vice-presidente da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), se o apoio do Ministério da Saúde foi suficiente para satisfazer a necessidade do momento, durante a crise de oxigênio em janeiro deste ano que gerou a morte de pessoas por asfixia em unidades de Saúde devido à ausência do insumo.

Randolfe mostrou um vídeo de pessoas com cilindro de oxigênio em uma fila, durante o período mais crítico da crise que acometeu o estado. Nas imagens, mostrava-se o Hospital Getulio Vargas, unidade federal sob a jurisdição do Ministério da Educação. Campêlo esclareceu que a unidade tem contato direto com a fornecedora de oxigênio White Martins. Questionado por Randolfe se na data do vídeo mostrado, entre os dias 13 e 14 de janeiro, o ministério já tinha a dimensão da crise, o ex-secretário disse que sim.

O senador falou também sobre um decreto estadual, de dezembro do ano passado, que impunha medidas restritivas de circulação perante o aumento de casos. O decreto foi flexibilizado pelo governo do Amazonas em seguida. Na época, segundo o ex-secretário, a orientação da pasta era pela manutenção do decreto. “Essa informação também é muito importante. Veja: a posição da Secretaria de Saúde foi contra a revogação do decreto das medidas restritivas”, pontuou Randolfe.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD), senador pelo Amazonas, lembrou que na época, quando o governador (Wilson Lima) decretou medidas restritivas de circulação, houve um movimento nacional para impedir os fechamentos. Na ocasião, houve manifestação, inclusive, de pessoas ligadas ao governo, como a deputada federal bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF). Depois que o governador recuou no decreto, ela escreveu no Twitter, dias antes da crise de oxigênio: “A pressão do povo funcionou tb em Manaus. O governador do Amazonas, Wilson Lima, voltou atrás em seu decreto de lockdown”.

“Gabinete paralelo”

Randolfe ressaltou que quando o governo decretou os fechamentos, houve movimento de “vários membros do gabinete paralelo”, citando o deputado federal Osmar Terra, “que fez manifestações no Twitter”. “Embora noticiário alarmista, Manaus tem queda importante de óbitos desde julho”, diz mensagem do deputado que foi lida por Randolfe.

Questionado se esse movimento pressionou o governador Wilson Lima a revogar o decreto, Campêlo negou. “O governador foi pressionado pela manifestação popular em relação, inclusive, à segurança pública no estado do Amazonas. Houve uma revolta generalizada, inclusive com ateamento de fogo, as equipes de segurança tiveram que enfrentar os manifestantes etc”, disse.

Perguntado por Randolfe se a Secretaria de Segurança do Amazonas saberia quem incentivou esses atos contra as medidas restritivas uma semana antes do colapso, o ex-secretário disse não ter a informação. “Eu sei que muitas pessoas, inclusive autoridades e parlamentares, foram para as redes sociais criticar o decreto do governador, inclusive o então prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto”, afirmou.

Campêlo completou: ”Quando uma pessoa pública que tem uma liderança faz uma manifestação, pode influenciar a ação de outras pessoas”.

Força Nacional de Saúde

Campêlo afirmou que enviou um ofício ao Ministério da Saúde no dia 31 de dezembro do ano passado pedindo apoio da Força Nacional de Saúde no estado, além de solicitar diversos apoios para recursos humanos, medicamentos e equipamentos.

De acordo com ele, a demanda foi atendida ao longo do mês de janeiro, quando a Força Nacional chegou e ficou no estado durante toda a crise. “Nós tivemos atendimento de respiradores, bomba de infusão, de monitores, e envio de medicamentos também… Foram enviados. O que o ministério fez foi disponibilizar o banco de dados de cadastro dos recursos humanos no Brasil, e o estado utilizou esse banco de dados para a contratação, mas paga pelo próprio estado”, afirmou.

O ex-ministro Pazuello já disse que soube em dezembro do aumento de casos e de internações em Manaus, e que no final do ano reuniu com a sua equipe para tratar da situação.


Fonte: Correio Brasiliense